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Rituais de Rebelião no Sudeste da África - Max Gluckman

Herman Max Gluckman  (1911-1975)
   Nasceu em Joanesburgo na África do Sul, mudou-se para Inglaterra e  se naturalidade britânico.
  Estudou na Universidade de Oxford, foi aluno de Evans-Pritchard e de Radcliffe-Brown, cujo pensamento social influenciou decisivamente a sua obra e carreira, era ativista político e humanista.

    O autor faz uma análise da obra de sir James Frazer e desenvolve seu artigo dialogando com ela, porém vai se distanciando, no decorrer do processo para apresentar os resultados de sua própria pesquisa. Partindo do trecho inicial de o Ramo Dourado, em que Frazer descreve o ritual do Rei-Sacerdote do Bosque de Nemi, na Itália (para conquistar o sacerdócio, o candidato deve assassinar o atual ocupante do posto, e neste posto permanecerá até que alguém o mate e torne-se o novo sacerdote) e o relaciona com outros rituais de rebelião registrados em vários lugares e épocas, considerando-as, em síntese, como cerimônias que representavam a morte e o renascimento da vida, especialmente a vegetal, como as colheitas anuais.


            Assim, Gluckman diz que vai tratar especificamente de cerimônias realizadas por povos do sudeste da África, nos quais ele afirma existir elementos de tensão social controlada, que ele chama de rituais de rebelião.
      O primeiro deles, o rito em homenagem à Deusa Nonkubuulwana, única divindade plenamente desenvolvida do panteão Zulu. Nonkubulwana, é entendida apenas como parte humana, sendo também composta por outros elementos da natureza, tais como a neblina, as árvores e as montanhas. É a deusa que ensinou à humanidade todas as artes úteis da agricultura e da manufatura, sendo celebrada em comunidades agrícolas, em escala local, quando as lavouras começam a crescer. É um ritual de participação exclusiva das mulheres, com o objetivo de assegurar a prosperidade e produtividade da lavoura. 
            O autor diz que os rituais de rebelião só vão ocorrer onde a ordem social estabelecida e suas instituições não são questionadas.


  Nas disputas pelo poder, aqueles que desafiavam a autoridade pretendiam tomar o lugar desta, e não modificar as regras do jogo. Essas regras do jogo – a ordem social – é tida como algo certo, a “verdade”, às vezes num nível sagrado: a ordem social é a estrutura inerente da criação. E é essa forma de ver a sociedade, segundo Gluckman, que permite a existência de rituais de rebelião, que, ao contrário do que possa parecer, mais servia para destacar a coesão social do que para mostrar alguma eventual fragilidade dela.
        Concluindo, com Rituais de Rebelião no Sudeste da África, Gluckman insere a ideia de conflito como algo constituinte da própria estrutura social, e que nas sociedades apresentadas os rituais de rebelião agem tanto como uma celebração da ordem quanto como uma válvula de escape das tensões sociais, ou seja, antes como mecanismos de manutenção que como ingredientes das revoluções.



               Povo Zulu 





     Os Zulus formam o maior grupo étnico do continente, bastante conhecido por suas belas contas coloridas e cestos, bem como outras pequenas esculturas. Vivem em territórios atualmente correspondentes à África do Sul, Lesoto, Suazilândia, Zimbábue e Moçambique. Apenas na África do Sul, a população de zulus foi estimada, em 1995, em 8.778 (o que corresponde a 22,4% da população total do país). Espalhados pelo restante do continente, o número de zulus chega a 400 mil. As mulheres cultivam a terra e as crianças são pastores. Os zulus moram em choças em formas de cúpulas, sem janelas e facilmente desmontáveis. Quando morrem são enterrados sentados, com os olhos voltados para a sua cabana.

Nomkubulwana, a princesa do Céu, homenageada pelas mulheres e pelas moças de distritos locais de Zululândia e Natal, quando as plantações começavam a crescer. (pg7)

Entre os Zulus, o mais importante desses ritos requeria comportamento obsceno da parte de mulheres e moças. Essas se vestiam como homens e tratavam e tirava leite do gado, coisa que geralmente era tabu pra elas. (pg8)

    Esse papel temporariamente dominante da mulher (um papel dominante publicamente instituído, realmente aprovado e não apenas exercido tacitamente num plano secundário) contrastava fortemente com os mores desses povos patriarcais. (pg9)


    Neste ritual o rei parece um monstro selvagem, com plumas negras na cabeça, relva de bordas afiadas, tudo com significado no ritual. Durante essa execução o rei dança, sai e retorna para o santuário, quando os príncipes se agrupam atrás dele batendo nos escudos comemorando, pois o rei se mantem vivo e saudável. Finalmente jovens com escudos especiais vem para frente cantando canções de triunfo. (pg19)
Referências

NASCIMENTO, Sônia. Características do povo Zulu. Publicado em: 19/10/2016. Disponível em:  https://revistaraca.com.br/caracteristicas-do-povo-zulu/. Data de acesso: 15/09/2017

PEDROSO, Leandro. Chaka Zulu, rei africano. Publicado em: 07/07/2012. Disponível em:http://construindohistoriahoje.blogspot.com.br/2012/07/chaka-zulu-um-rei-africano.html. Data de acesso: 15/09/2017


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